Foto: Rodrigo Campanário
Aproximar os cidadãos do saber e fazer científico, estimulando-os a adquirir um olhar atento para os seus entornos e a natureza, é um dos principais objetivos de iniciativas no âmbito da ciência cidadã. É com essa proposta que o Projeto UÇÁ se une mais uma vez aos projetos Coral Vivo, Guapiaçu e Meros do Brasil — que integram a Rede de Conservação Águas da Guanabara (REDAGUA), patrocinados pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental — para desenvolver capacitações de Cientista Cidadão, nas quais são apresentadas informações sobre os manguezais, conservação costeira e formas de colaboração com os pesquisadores. Desse modo, os participantes podem passar a fornecer contribuições valiosas para a ciência.
Será graças a uma formação realizada neste mês de janeiro, no bairro Itambi, em Itaboraí, que pescadores e catadores que atuam na Baía de Guanabara passarão a contribuir com dados e informações sobre as andadas reprodutivas do caranguejo-uçá. Essa colaboração auxiliará os pesquisadores a identificar e ajustar, de forma mais eficaz, os períodos de defesos do crustáceo na região.
A atividade de capacitação ocorreu durante o encerramento da Operação LimpaOca, uma Iniciativa pioneira do Projeto UÇÁ que engaja catadores e pescadores em ação de retirada de resíduos sólidos da Baía de Guanabara durante o período de defeso do caranguejo-uçá, que ocorre de 01/10 a 31/12, na região Sudeste.
Durante a formação, que apresentou mais detalhes sobre o ciclo reprodutivo do caranguejo-uçá, os trabalhadores aprenderam também a utilizar o aplicativo REMAR-Cidadão. A ferramenta foi desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal do Sul da Bahia com o objetivo de monitorar as andadas reprodutivas de caranguejos de manguezais. Com a correta identificação dos períodos de reprodução, será possível conservar melhor as espécies e evitar problemas socioeconômicos que poderão ocorrer caso os períodos de proibição de captura estejam incorretos.
“Essa formação foi desenvolvida para que os catadores de caranguejo e pescadores conheçam mais sobre a reprodução do caranguejo-uçá e porque é importante respeitar o período de defeso. Além disso, essa contribuição deles, por meio do aplicativo, é fundamental para que a gente atualize o período em que ocorre essa reprodução aqui no fundo da Baía de Guanabara e avalie se está condizente com o período já preestabelecido para o defeso na região Sudeste”, explica a coordenadora-geral do Projeto UÇÁ, Janaina Oliveira.
Os pescadores e catadores aprovaram a iniciativa: “Sou pescadora, mas não tinha noção do tempo de desova do caranguejo, por exemplo, e que leva cinco anos até o momento certo da coleta. Essa formação foi muito importante porque ela mostrou pra gente um meio de colaborar com a ciência, além de trazer muitas informações”, conta a pescadora Nazaré Simões.
“Acredito que poderemos contribuir bastante com os pesquisadores, por meio do aplicativo, já que estamos no manguezal diariamente, presenciando quando os caranguejos estão em andada ou não”, destaca o presidente da Associação de Pescadores de Itambi (Acapesca), Alexandre Ribeiro, o Tico, que trabalha desde os 13 anos na região.
Aplicativo REMAR-Cidadão
De acordo com a coordenadora do Projeto UÇÁ, Janaina Oliveira, que também ministrou a Formação, o aplicativo é simples e intuitivo, além de estar disponível para Android e IOS. Não é preciso, por exemplo, registrar dados como nome e e-mail. Basta preencher as informações solicitadas sobre a andada do caranguejo, como a data, local e lua em que foram avistados, entre outras informações básicas. Quem não tem acesso à internet ou não conseguir acessar o aplicativo por algum motivo, poderá enviar as informações, mesmo por áudio, para um grupo de Whatsapp do Projeto Uçá, compartilhado com esses profissionais.
O aplicativo também está disponível para pescadores e catadores de todo o país, além de turistas, pesquisadores, moradores locais e qualquer outro cidadão interessado em contribuir.
Volume de chuvas e baixas temperaturas influenciaram andada em dezembro
Segundo observações dos pesquisadores do Projeto UÇÁ em parceria com catadores de caranguejo que atuam na área do Rio Caceribu, que faz parte da APA de Guapi-Mirim, não ocorreu a andada do caranguejo-uçá no mês de dezembro nesta região.
A "andada" é o período onde os caranguejos machos e fêmeas saem de suas tocas para o acasalamento e desova, tornando-os presas fáceis. Este período da andada é regido principalmente pela lua, podendo ocorrer em período de lua cheia ou nova, nos meses em que as temperaturas geralmente são mais elevadas (primavera e verão).
Devido as chuvas que ocorreram neste período, houve um grande aporte de água doce nos manguezais. Além do excesso de água doce, as baixas temperaturas registradas em dezembro, podem ter sido alguns dos fatores que afetaram a reprodução do caranguejo. Segundo os catadores, em meados de janeiro, foram vistas fêmeas ovígeras do caranguejo-uçá nos currais de pesca próximos à região. “Essa movimentação é uma tentativa das fêmeas de realizar a desova em águas mais salgadas, o que aumentaria as chances de sucesso da desova”, avalia Janaína.
Sobre a REDAGUA
A Rede de Conservação Águas da Guanabara (REDAGUA) é uma rede de atuação territorial que reúne quatro projetos patrocinados pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental — Coral Vivo, Guapiaçu, Meros do Brasil e UÇÁ — e tem como missão potencializar resultados para alcançar a melhoria da sociobiodiversidade da região da Baía de Guanabara.
As ações da REDAGUA conectam os diferentes ambientes de atuação dos projetos que a integram. Na porção leste da Baía de Guanabara, o Projeto Guapiaçu contribui para o fortalecimento do ecossistema da bacia hidrográfica Guapi-Macacu por meio da restauração ecológica, educação ambiental, monitoramento de biodiversidade e reintrodução de fauna. O fundo da Baía, também em sua região leste, conta com a forte atuação do Projeto UÇÁ, que luta pela conservação de seus manguezais, disseminando também conhecimentos sobre os ambientes costeiros marinhos.
Já o Projeto Meros do Brasil é comprometido com a preservação e recuperação dos meros (Epinephelus itajara), espécie ameaçada por capturas ilegais, que tem sua fase inicial de vida nos manguezais da Baía e nas áreas de foz de seus rios. Completando o time, o Projeto Coral Vivo traz à população o conhecimento sobre os diversos e frágeis ambientes coralíneos, abrangendo as áreas insulares do entorno da Baía, focos do Plano de Ação Nacional para Conservação dos Ambientes Coralíneos – PAN Corais.
Entre os objetivos da rede, está demonstrar, por meio de diversas ações, que a Baía continua viva e resiliente.